Tudo que penso tem uma origem inescrupulosa e pueril, isso é tudo que me limito a ser.

domingo, 30 de agosto de 2009

Loucura, torpor e um pouco de realidade

Estou aqui falando da loucura trágica, da loucura catástrofe, da loucura fim-de-mundo, da loucura que leva um sujeito a se desesperar e a viver em um mundo delirante próprio, solitário, correndo pelas ruas e rejeitando a vida com os demais seres humanos, e sendo ao mesmo tempo rejeitado por todos, como seres indesejáveis e insuportáveis. Loucura esta que expressa aos berros, sem ter sido silenciada por drogas, caridade, psicologias, polícia ou assassinato - que é o fim que tem levado a maioria dos milhões de loucos reais desse país. Trágica contradição deste país moribundo: apenas no caos a loucura tem voz própria. A Alemanha não deixou nem mesmo Nietzsche continuar berrando audivelmente depois de ter se tornado oficialmente doido. Mas aqui os loucos conseguem fugir ao controle dos "normais".

Essa loucura real, de loucos reais, subumanos, e não dos desejosos de serem artistas ou transgressores em suas "modinhas" intelectuais, é a solidão extrema e total a que o ser humano pode chegar; é quando tudo que existe aos olhos de todos os outros deixa de fazer sentido, só restando à pessoa reinventar solitariamente seu próprio mundo, sua própria crença, seus próprios fantasmas, seus próprios ídolos míticos, sua própria identidade, a par de todos, diferentemente de todos os outros em suas ilusões compartilhadas coletivamente.

Mas quando a realidade do caos ao seu redor desnudou todas essas suas fantasias morais e ilusões de um mundo que não mais existia, tornou-se uma pessoa sem "mundo" no qual acreditar: perdeu seus valores e suas ilusões necessárias à vida compartilhada com outras pessoas, e não conseguiu ter novas ilusões (crenças, ou sentidos para a vida), no lugar das anteriores.

Tornou-se um vazio existencial completo, um ser amorfo, com restos de identidades fragmentadas, com resquícios de valores morais contra os quais agora passava a lutar, por sabê-los irreais, com restos de crenças em Deus e coisas do tipo das quais agora tinha apenas raiva - por ter se descoberto uma pessoa enganada quanto a si mesma e quanto ao mundo real, brutal, caótico, genocida, no qual o ser humano não tem valor algum, a não ser em jogos de palavras hipócritas, com falsos humanismos – ou seja, o típico mundo da pobreza urbana brasileira, cercado de violênicia e de intelectuais humanistas.

Aos olhos dos outros tornou-se loucura, alguém a quem não se dá crédito, a quem não se compreende, com quem não se consegue compartilhar opiniões e crenças. Se lhe dessem ouvido, e se compreendessem o que fala, somado ao que falam os milhões de loucos brasileiros que não têm voz (por isso são loucos aos olhos dos outros), e sobre os quais não se faz filmes, viria à tona a realidade de um país e de um mundo de que a maioria da população não quer saber - preferindo todos continuar vivendo em seus estragados castelos de areia. Viria à tona uma realidade brutal, catastrófica, apocalíptica, um povo se auto-destruindo e ainda tendo que se acreditar alegre, carnavalesco e humanista-cristão. Quem quiser ver esta realidade, no entanto, basta apenas parar de assistir a Matrix, de jogar vídeo-game, de fumar maconha... Basta abrir os olhos e a mente para o que está ao seu redor - se conseguir.

'De algum lugar, gritos ecoam e doem aos ouvidos daqueles que se disporem a ouvir, sangram suas realidades falsas e utopicas, abrem feridas, as quais os 'normais' nao se dão a trabalho de curar.'

De alguem, por aí!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Despertar

Naquele momento as palavras ecoaram pela minha alma como se um grito repentino, abafado, desesperado surgisse de um 'eu' adormecido, como o apertar de um gatilho que dá início ao trajeto da bala causadora do orifício feito no crânio do ser que partiu, para que outro nascesse. Senti-me estranho, como se a luz viesse de encontro à meus olhos, com tanta intensidade que pude sentir minha alma arder em chamas, se queimar com o calor da vontade de ver o mundo, a realidade como ela deve ser vista, usar pela primeira vez, minha visão.

A cada palavra lida, eu sentia um golpe pesado e cortante daquela nova sensação, de dentro pra fora, crescendo, brigando bravamente pra se libertar, cansada de tanto se esconder de máscaras que não faziam parte de mim. E eu, casando de ser quem não sou, cansado de me tornar uma máquina, um mecanismo forjado pra manter uma sociedade pútrida, que fede, e que me obriga a usar tampões sem que eu veja, pra não sentir seu mal cheiro, e então levantar a voz a tempo calada contra ela.

Durante algum tempo andei distante do mundo, distante do que se passava ao meu redor. Em casa me acusaram de louco, o que não foi novidade, na escola, me perguntaram - Qual o seu problema?- e nada mais fazia que sorrir, afinal, era a única informação idiota da sociedade que me lembrava nesses momentos 'Rir para não chorar'. Minha mente desbravava locais jamais conhecidos por mim mesmo.

O que posso lhes dizer é que depois de tanto pensar e refletir sobre o pensamento que acabara de ter, aceitei o novo eu, e agora, me vejo perdido em meio à um mundo que não compreendo, não mais, à rotinas que não me dizem respeito, não mais, a conceitos sem nexo algum, a uma vida sem sentido nenhum... Me tornei então, um ser alheio aos afazeres que vejo todos preocupados em cumprir, atarefados, brigando entre si e tentando obter bens que nem me lembro pra que servem mais.

Fiquei louco ou descobri aonde estava de fato, minha consciência...? Não creio que um lugar onde eu me sinta tão estranhamente bem, extra ao todo que a humanidade acredita ser, possa ser algo ruim. Confesso que não sei mais o que fazer, onde ir, com quem falar, o que buscar, mas uma coisa é certa, esse sou o 'eu' que quero ser, posso não ser ninguém aos olhos de um homem qualquer se seguir este novo caminho que surgiu, mas serei alguém suficientemente realizado quando a morte pousar sua pesada foice em meu ombro.

Até lá viverei uma vida que não sei qual, experienciarei coisas que não imagino, terei ensinamentos que ainda não sei.
Me lembrarei das palavras que me revelaram tal caminho, serei grato a elas por me trazerem meu pequeno abrir de olhos, meu singular Despertar...